Relato de 10 anos de uso de Software Livre

FONTE: http://www.silvio.me/

Por Silvio Henrique Mendes (silvio&mendes·me)
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referência (silvio.me).

Dizem que recordar é viver…

Em 2008 completou 10 anos desde que comecei a utilizar Linux. Farei um relato de minhas experiências com o Software Livre.

Era 1998, mudança para Foz do Iguaçu-PR, calouro do curso de Ciência da Computação da UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) fui apresentado - pelos veteranos - ao sistema do pinguim.

Debian

O Laboratório de Programação era dual boot (Win98 e Debian) e havia um detalhe: no Windows a Internet era bloqueada pelo admin, mas no Linux o pessoal descobriu uma forma de burlar o bloqueio e acessar a Internet. Acontece que toda vez que eu ia ao outro laboratório de acesso à Internet (que tinha só Win98) esse se encontrava lotado, então o jeito era voltar ao Laboratório de Programação, acessar o Linux e abrir o Netscape… tive um bom incentivo para aprender a utilizar o Linux ;)

O Debian rodava em um “poderoso” Pentium 133 MHz. Gostei da console, me senti à vontade pois meu primeiro aprendizado de informática foi o MS-DOS. Lembro ter achado o máximo aprender a dar telnet em outro servidor e executar o ELM para ler meu e-mail. Alguém chegou a utilizar o ELM? ainda existe?

O ambiente gráfico era o Icewm, achei-o diferente do Janelas, tosco, feio mas usável. O browser era o Netscape, que na época arrasava a concorrência. Meus próximos passos foram:

  • Conhecer, estudar e admirar a filosofia do Software Livre;
  • Instalar o Debian no meu primeiro computador, um 486 DX4 100 MHz (computadores eram muito caros naquela época).

Aquele possante 486 tinha até memória RAM ECC. Deixei o sistema com dual boot pois necessitava executar o IDE da Borland (Turbo Pascal) no Win95 para desenvolver os programas que eram passados pelo mestre Jorge Habib. O Win95/98 era um verdadeiro fenômeno desastre de instabilidade, falta de segurança e má utilização dos recursos da máquina. Neste cenário achei o Debian e seu APT a sétima maravilha da computação.

A seguir um resumo do cenário existente nos idos de 1998:

  • Netscape anuncia que vai liberar o código fonte do seu navegador sob uma licença livre.
  • O Termo “Open Source” é criado nos EUA. Começa um maior esforço para promover o Linux para uso corporativo.
  • Informix e Oracle anunciam suporte ao Linux (Red Hat).
  • Surge o Google, que é baseado em Linux. Nessa época eu era fã do AltaVista.
  • IBM anuncia que distribuirá/suportará o Apache após um acordo com o time do Apache.
  • “Como muitos outros produtos gratuitos você consegue uma legião de seguidores, mesmo que essa legião seja pequena. Eu nunca ouvi qualquer cliente nosso mencionar algo sobre Linux” — Bill Gates, PC Week, 25 de junho de 1998.
  • “… esse sistema operacional não será utilizado largamente em aplicações comercias pelos próximos três anos, nem mesmo será suportado por desenvolvedores de aplicações” — Gartner Group informa que há poucas esperanças para o Software Livre.
  • Grande polêmica: memorando confidencial da Microsoft sobre a estratégia contra Linux e o Open Source vaza e chega às mãos de Eric Raymond que adiciona seus comentários e libera para a imprensa no fim de semana do Halloween. Por causa da repercussão a Microsoft é forçada a reconhecer a autenticidade do infame Documento do Halloween. Essa é a primeira vez que se ouve da própria Microsoft que o Linux representa grande competição.
  • Relatório do IDC diz que a adoção do Linux cresceu mais de 200% em 1998, e que seu market share cresceu mais do que 150%. Linux atinge 17% de market share e cresce a taxas não acompanhadas por nenhum outro sistema no mercado.

Nos idos de 1998/1999 assisti na universidade uma palestra ministrada pelo Sandro Nunes Henrique (fundador da Conectiva) e pensei: “Linux vai dar dinheiro, vou investir nele e trabalharei com Software Livre depois que terminar a graduação“.

A partir desta época passei a utilizar o Linux para programar e fazer os trabalhos da faculdade e também fui integrante do Grupo de Pesquisa em Redes de Computadores coordenado pelo prof. Antonio Marcos Hachisuca (Shiro).

Lembro que fiz um upgrade no meu PC e resolvi instalar o KDE no Debian. Na época era complicado fazer o KDE funcionar pois os desenvolvedores não facilitavam esta tarefa devido a uma briga que existia com o KDE: a biblioteca QT possuia licença considerada problemática pelo pessoal do Debian. Depois de algumas horas ver o KDE funcionando foi emocionante.

A partir de 2002 comecei a estudar o Linux mais seriamente. Foi através do Linux que realmente entendi o funcionamento de um sistema operacional; me aventurei a compilar o kernel, estudei Apache, syslog, Samba e em 2003 fiz meu primeiro firewall Iptables.

Em 2004, trabalhando no ITAI, participei na implantação do Projeto Software Livre da Itaipu Binacional. Uma das atividades foi montar uma solução de servidor LTSP e thin clients para os Telecentros que foram implantados no Brasil e no Paraguai. Também criamos uma distribuição Linux (live cd baseado no Knoppix).

Neste período estudei e implantei na Itaipu Binacional as ferramentas de monitoramento Cacti e Nagios e coordenei o desenvolvimento de um portal de Gerenciamento de Redes baseado na intregração de ferramentas de Software Livre. Esta foi uma fase de grande aprendizado e diversão junto com os colegas Carlos Eduardo Santiviago (sempre disposto a compartilhar seu conhecimento), Jackson Gobbo, Marcos Dellazari, Jaime Nelson Nascimento, Marcos Siríaco Martins e tantos outros.

Desta época também recordo das Installfest que realizamos, da criação da estrutura computacional do PTI (Parque Tecnológico Itaipu), da aprovação na Certificação LPIC-1 (Administrador Linux nível 1), do PSL Trinacional e do surgimento da primeira edição do evento Latinoware.

Em 2005 fui sócio fundador da Prognus Software Livre, empresa criada para suporte e desenvolvimento de soluções em Software Livre.

Em meados de 2006 deixei a Prognus e passei a integrar a Fundação Parque Tecnológico Itaipu, onde até hoje sou responsável pela administração da infra-estrutura de TIC do PTI (Parque Tecnológico Itaipu). No PTI temos:

  • 23 servidores com Debian GNU/Linux e 03 servidores com Suse Enterprise.
  • Cerca de 100 estações de trabalho com Ubuntu Linux (este número aumentará pois estamos em processo de migração).

Considero que desde 1998 o Linux passou por uma evolução fenomenal em qualidade, robustez e também em facilidade de uso. Hoje o Linux adentrou as portas das grandes corporações e grande parte dos negócios mais inovadores rodam em plataforma livre. Iniciativas como o Ubuntu contribuiram para levar o Linux a um número muito maior de usuários finais.

Resumidamente esta tem sido minha trajetória no mundo do Software Livre. Fique a vontade para comentar e também para compartilhar suas experiências relacionadas ao simpático sistema do pinguim :)

Vida longa ao Software Livre! Vida longa ao Linux!

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